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3. Lições do balé


Tudo começou com um simples impulso, uma vontade de ser igual a ela. Queria fazer parte do seu mundo, descobrir que tanto mistério rodeava sua sala de aula, por que todos pediam licença ao entrar? Assim, me posicionei no cantinho, tentando aprender os passos sozinha, e quando iniciei no 'baby class', era a menorzinha da turma.


Bom me acostumar, porque de fato, o tempo passou e nada mudou. Continuei sendo a mais baixinha, primeira da fila a liderar o corpo de baile, e sempre escalada a fazer papéis de criança por ter estatura baixa e rosto de menina. Até os vinte e poucos anos, ainda passava por menor de idade e ganhava desconto em bilheterias.

 

Entre aulas de diversas modalidades e brincadeiras com minhas amigas, eu passava as tardes no balé fazendo lição no escritório, até que mamãe terminasse sua última aula do dia. Sapatilhas xulézentas, capas de cds vazias, inúmeras listas de nomes, cheques e fotografias se espalhavam por sua mesa. Na hora de ir embora, era sempre a mesma história:


'Cadê a chave do carro??'


Exausta e sem voz de tanto dar aula, minha mãe procurava a chave por todo o canto. Mas quem podia encontra-la em meio àquela bagunça?

 

Cada sede de sua escola - o Ballet Marcia Lago - fez parte do meu crescimento e deixou sua lembrança. Passei por algumas na época em que a escola ainda não tinha sua própria casa, mas o período mais marcante foi o da North Lake, com seu parquinho gigante e amoreira que tingia nossas sapatilhas, o fã clube das Chiquititas e canções da Sandy & Junior, perguntas e descobertas da adolescência ... quem teve aulas com o professor Bruno lembrará das inúmeras desculpas que inventávamos para escapar dele.


Foi lá onde realizei meu maior sonho: vestir uma sapatilha de ponta!

 

Era nosso primeiro ano nas pontas e ganhei papel de destaque no espetaculo da Cinderella. Sabia que tinha me esforçado muito para isso, mas todos deviam pensar que ser filha da diretora me dava certos privilégios. Muito pelo contrário! Vivia levando broncas sem motivo - pelo menos era o que pensava - meus figurinos nunca ficavam prontos a tempo, e recebia poucos elogios. Apesar de tudo, senti que minhas amigas me tratavam diferente, pois ficavam chateadas em não serem as escolhidas.


Embora não deixasse de curtir a sensação prazerosa de estar no palco, o que me atraia à dança era a disciplina, o esforço e dedicação que cada aula exigia. Fui me identificando com o balé clássico e querendo aprimorar os passos e minha capacidade de executá-los. Não bastava saber dançar, tinha que me superar a cada dia. Em pouco tempo, passei a levar o balé mais que a sério.


Parece até que o Ballet Marcia Lago me preparava para o mundo profissional, onde alegrias e decepções fazem parte da vida. Com trabalho e dedicação conquistamos nosso espaço, este sempre foi o lema da escola e fará parte de seu legado. Seus ensinamentos nos levam longe, não importa qual carreira seguimos, e definitivamente me guiam até hoje.

 


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