Muitos passam a vida à procura de um propósito, um sentido pelo qual existem.
Quando crianças, vivemos angustiados por nos perguntarem O que você quer ser quando crescer? Dentista? Engenheiro? Professor? Para minha sorte, nunca me questionei muito quanto ao meu futuro. Gostava de ler e escrever, e de animais, e até cheguei a pensar a ser jornalista ou veterinária, mas acabei me apaixonando por algo a que me dedicava desde pequenina: o balé.
Todo mundo que dança já é bailarino, não importa a idade ou circunstância. Ser bailarino é algo natural, que vem de dentro, é escutar a música e se deixar levar pelas vibrações de um piano ou pelo belo som de uma orquestra. Não importa onde dançamos ou com quem dançamos, se estamos sozinhos ou se há alguém assistindo. O que importa é dançar por mero prazer, sentir a melodia e nos expressarmos da nossa maneira.
Não sei em que ponto o balé se tornou mais do que um hobby para mim, mas sei que à medida que fui crescendo e me desenvolvendo, também crescia o sonho de se tornar uma bailarina profissional.
Vejam que esta palavra ‘profissional’ faz toda a diferença.
Muitas de minhas amigas se dedicavam muito ao balé. Assim como eu, dançavam desde pequenas e possuíam talento, aquele brilho no olhar, mas foram encontrando pequenas pedras no caminho e aos poucos perdendo as esperanças. Uma por uma, desacreditaram no nosso lema de ‘viver para dançar’. Fazer da dança uma profissão é mais complicado do que parece, especialmente de onde venho.
Sou brasileira, terra tropical onde apreciamos carnaval e futebol, mas de balé clássico se conhece bem pouco. Nunca soube dizer o porquê de existirem tantas companhias clássicas na Europa, Rússia ou Estados Unidos, porém, no meu país, serem tão raras. Hoje entendo que há lugares no mundo onde os teatros se enchem todas as noites de um publico assíduo que ama balé, que se habituou a isso e se entretém com belos espetáculos, noite após noite. E nós, artistas, nos alimentamos disso. Sem o público, nosso ofício não tem significado. Mas o essencial é que, apesar de ser uma forma de arte, o balé também faz parte de um mercado. Uma companhia de balé também é uma empresa que depende de apoio, verbas e patrocínios para sobreviver.
O mundo do balé clássico é como uma sociedade secreta, uma rede complexa de pessoas que se conhecem e se auxiliam, que são apaixonadas pela arte e o que ela representa, que protegem tradições com unhas e dentes, mas querem que a arte sobreviva, que acompanhe o crescimento e desenvolvimento da sociedade. Quando pequenina, não podia imaginar que um dia teria que infiltrar essa massa e provar que também tinha algo a dizer, que o meu povo também tem algo a contribuir. Não sabia como chegaria lá e nem ao menos como exatamente exerceria a profissão, mas não irei me precipitar.
É preciso contar como tudo começou, que já nasci nos braços longos de uma bailarina. Após dançar por muitos anos, minha mãe abriu uma escola de dança, e foi lá onde dei meus primeiros passos. Era mais do que adequado para sua menininha de três anos iniciar no “baby-class”, mas o que não podia imaginar era o quão longe isso ia chegar. Parece bobagem, mas eu nem sabia o que constituia uma carreira de bailarina. Só não queria parar de dançar nunca mais!
Li o texto e me identifiquei muito. Ganhei coragem com isso.
Acabei aqui por acaso. Resolvi ler porque, não apenas gosto de ballet, mas vi que você estudou literatura e escrita criativa. E agora tô assim: ei, peraí? Qual é o capítulo 2?
É mágico te ver dançar