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Ballet, livros & outras histórias

A inspiração nos vem de tudo quanto é canto. Para mim, está nos filmes que assisto, nas histórias de amigos, vendo alguém se superar no trabalho, e principalmente nos livros que leio. Isso tem sido algo constante em minha vida. Sempre confiei no que lia para me orientar. Os livros abriram meus olhos para muitas coisas e me ajudaram a enfrentar os piores momentos. Não apenas por me transportarem a um mundo diferente, mas também por me identificar com os personagens e ver parte de mim vivendo sua mesma “realidade”.

O primeiro livro pelo qual me apaixonei foi Soprinho, de Fernanda Lopes de Almeida. Devia ter seis ou sete anos quando minha mãe costumava lê-lo, e ainda me lembro do tom curioso de sua voz. Gostava tanto que decidi copiar o livro inteiro à mão, página por página. A princípio, me pareceu uma ideia brilhante, mas a cada pagina que escrevia minhas mãos iam ficando mais doloridas e tive que abortar a missão. Talvez um dia, pensei, escreveria meu próprio livro.



‘Todos os bosques do mundo são encantados. Se você nao acredita, é porque não conhece Soprinho. Só ele tem o poder de fazer a gente ver tudo de forma diferente. Basta receber o seu sopro e pronto! Você descobre um mundo habitado de fadas, mágicos, duendes, gênios, todos eles entregues a um trabalho misterioso. E por fim desvenda o grande enigma- afinal, quem é bom e quem é mau no reino da natureza? Mas Soprinho ainda deixa outra pergunta no ar - o que é bom o que é mau na nossa própria vida?'

A única coisa que me lembro da história de Soprinho é que numa certa tarde, um menino em forma de nuvem interrompe três crianças que brincavam na varanda, convencendo-os a se aventurarem por uma floresta encantada (foi até onde cheguei com a minha escrita). Não tenho ideia de qual era o propósito de sua viagem, mas toda vez que Soprinho soprava nas crianças, elas podiam ver seres mágicos que viviam na floresta.


Mesmo que acabe esquecendo seu enredo, a essência de um livro fica comigo. Lembro exatamente como ele fez me sentir. Curiosa, esperançosa, pensativa, feliz ou triste, ou como mudo a maneira de encarar a vida. Os livros que mais amo carregam um significado mais profundo que me tocam, exercem uma certa influência que me motivam. São uma fonte de inspiração para a forma como interpreto muitos de meus papéis.


Fadas em 'The Dream', baseado em Shakespeare.

Meus diários estão repletos de passagens de romances, biografias, até letras de música que provocam memórias e emoções. Desde pequena, registrava as coisas que me sensibilizavam, como se ao escrevê-las, estivesse a gravar aquelas palavras em meu coração. Talvez eu só pensasse que um dia precisaria recordar desses momentos, de como tudo representava uma verdade para mim.

Na pré-adolescência, fiquei obcecada por uma série de livros de mistério. Estranho nunca ter lido nenhum de Agatha Christie (autora inglesa famosa por seus livros de suspense) pois gostava muito desse tipo de enigma e de fazer o trabalho de detetive. Li muitos da coleção Vagalume. Foram anos em que era repreendida por meu pai por só querer ficar no quarto devorando livros, mesmo em dias de sol em que meus primos brincavam lá fora.



Ninguém na minha família é apaixonado pela leitura. Minha mãe lê de vez em quando, em viagens ou feriados. Ela diz que não tem tempo para isso, que sua vida é muito agitada. Leo, meu irmão, gosta de revistas como Top Gear e todos os tipos de textos sobre astronomia, mas acho que nunca o vi sentado com um livro nas mãos. Meu pai é uma causa perdida. Tentei encorajá-lo dando meus favoritos de presente, mas ele não conseguiu nem passar da dedicatória. Isso até se tornou piada na família. Sempre me senti um peixe fora d'água, imaginando de onde teria vindo esse meu interesse pela literatura.


Felizmente, minha madrinha sempre esteve ao meu lado me encorajando. Ela mesma é uma grande leitora, e sempre me presenteou de livros no Natal, aniversários, ou mesmo por nenhuma razão especial. Quando vinha nos visitar, trazia um presentinho retangular embrulhado em papel dourado. Eu já adivinhava ser algo da Saraiva, minha livraria favorita. Foi ela quem me apresentou a série do Diário da Princesa, de Meg Cabot, uma das minhas leituras adolescentes favoritas, e a A Irmandade das Calças Viajantes. Mais tarde, também me presentearia com a série completa de Como eu era antes de você, de Jojo Moyes.


Madrinha, a fadinha dos livros

O diario da Princesa

Também compartilho meu amor por livros com minhas tias-avós. Sempre ficava ansiosa por abrir presentes da tia Cleide, como O Pequeno Príncipe e livros de Isabel Allende (li muitos dessa autora chilena) e de Jostein Gaarder (como O mistério do Natal e O mundo de Sofia). Alguns desses passei a apreciar ainda mais quando mais velha. Eu e tia Cida fazíamos nossas visitas as livrarias. Sigo suas excelentes indicações, como A menina que roubava livros, que se tornou meu favorito.


“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.” O Pequeno Principe


O primeiro livro que li em inglês foi Harry Potter e a pedra filosofal. Foi um desafio e tanto! Acredito que comecei a lê-lo durante meu primeiro curso de verão em Toronto como uma forma de estudar ingles e me manter ocupada e não pensar nas saudades que sentia da família. Mas, é claro, tornei-me grande fã da série, ansiosa por cada lançamento dos livros e filmes. A Inglaterra já ocupava um lugar especial em meu coração, e por mais bobo que pareça, depois de seguir Harry por Hogwarts e pelas ruas de Londres, minha admiração e desejo de morar aqui só aumentaram!


Ao visitar Edimburgo em turnê com o Northern Ballet, fiz questão de fazer uma parada num pequeno café considerado 'o local de nascimento de Harry Potter'. Ao entrar ali, pensei será verdade?? Foi aqui que JK Rowling escreveu sobre Harry?? Não havia nada de especial em 'The Elephant House', embora me lembre de ter visto pela janela uma escola enorme e muito antiga que realmente me lembrou Hogwarts. Não posso afirmar se foi mesmo ali que ela se inspirou, ou se eu só queria acreditar a qualquer custo.



Na Escola Nacional de Ballet do Canadá, onde estudei por quatro anos, li muitas biografias de bailarinos e artistas que admirava, querendo descobrir o segredo para o sucesso. A escola tinha uma biblioteca com uma grande seleção de livros de balé e outros romances, e eu pegava muitos emprestados para ler em meu tempo livre. Fiquei inspirada com a autobiografia de Margot Fonteyn, e intrigada ao ler o relato de Gelsey Kirkland em Dançando em meu tumulo sobre seus problemas com drogas e distúrbios alimentares. A vida de uma bailarina exigia muito trabalho e dedicação, disso eu tive certeza. Há um mundo de desafios e sacrifícios além da beleza, graciosidade e leveza que vemos no palco.

Ler sobre jornadas de sucesso sempre me ajudou tremendamente. O que todos esses heróis têm em comum? Que conselho posso ouvir deles? Que dificuldades eles superaram? Há alguns anos li a biografia de um atleta olímpico brasileiro chamado Joaquim Cruz. O Matador de Dragões lida com o lado emocional do esporte e da competição, como esse esportista superou a ansiedade (que ele chama de seus "dragões") e rapidamente se recuperou de lesões graves, sendo um grande exemplo de força e resistência que também busco em minha profissão. O Becoming (Minha História) de Michelle Obama foi a autobiografia mais recente que li, também muito inspiradora.



A beleza da linguagem é importante, mas o que realmente me atrai numa escrita é como me identifico com ela. Histórias de vitória diante de mil adversidades, da descoberta de quem realmente somos ... essas começaram a me atrair mais e mais. Nos meus vinte anos fiquei muito interessada em livros filosóficos, em descobrir o significado da verdadeira felicidade e de como viver bem nossas vidas. Procurei aplicar todas as lições aprendidas, sempre questionando como poderia viver melhor a minha.


Os livros do autor brasileiro Paulo Coelho tiveram um impacto profundo em mim. Li quase todos os seus títulos porque adorava as mensagens por trás deles. Quando Coelho tinha 38 anos, um despertar espiritual o fez perceber que sua verdadeira vocação era ser escritor, história que contou em seu primeiro livro, Diário de um Mago. Mas foi O Alquimista, seu segundo livro (e meu favorito), que o tornou famoso. Seus livros me impulsionaram a deixar a companhia de balé onde trabalhava e seguir o meu sonho. Agradeço a ele por ter me dado a coragem e fazer acreditar em meu destino.


'Quando você deseja algo, todo o universo conspira para ajudá-lo a alcançá-lo.' - O Alquimista


Os livros me lembram daquilo que mais valorizo na vida, e da pessoa que almejo ser. Refletem perfeitamente cada fase da minha infância e adolescência, cada superação. Muitos escritores nos transportam para o mundo de seus personagens, e sempre ha algo revelador em suas histórias que nos ensina lições valiosas. O caçador de pipas está no topo da minha lista, também O Deus das pequenas coisas de Arundathy Roy e Norwegian Wood de Murakami. São romances tão lindos que me fizeram chorar.


Por que existem livros que nos fazem mudar a maneira como pensamos e nos sentimos? Percebo agora que o verdadeiro significado de suas palavras e como as relaciono com minha vida é o que me faz gostar de ler. Se um dia me tornar escritora, é isso que mais gostaria de fazer, oferecer aos leitores um conforto, uma nova perspectiva, criar esperança e iluminar seus caminhos, assim como outros fazem comigo.


Logo no início do meu curso de escrita, já vi o quanto posso relacionar essa arte com a dança. Todos os artistas têm as mesmas inseguranças e travam batalhas muito semelhantes. O que mais desejam é poder se expressarem e tocar as pessoas. É preciso ser extremamente sensível, observador, confiante em seus ideais e poder usar o inconsciente e a imaginação para criar algo valioso e eterno.


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